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Permacultura virou minha orientação politico-social e também a minha prática pessoal (Asa Branca, ano 2000)

História

Por Cláudio CJ

A minha história com permacultura começa um pouco precoce, para quem no final dos 90 não tinha pais ligados às questões ambientais, aos 19 anos de idade. Na realidade falar de permacultura na minha vida me remete a antes mesmo de tê-la conhecido, pois para acessar a permacultura com a atenção e intenção 100% focadas na transformação que ela oferece, como aconteceu comigo, é necessário ter, antes, revirado alguns conceitos e paradigmas que regem o senso comum, como por exemplo o fato de que a força do “cooperar” é bem maior do que a força do “competir” na dinâmica ecológica do planeta. Ou seja, na natureza a principal força de evolução é a cooperação e não a competição. Assim como esse, outros tantos “pontos de senso-comum” são questionados nesse momento da pré-descoberta da possibilidade que é a Permacultura.

Mas, voltando ao meu encontro com a “cultura permanente”, o ano era 1997 e eu, estudante de engenharia florestal na UnB_ Universidade de Brasília já vinha de uma atuação social militante na universidade e sempre aspirando fortemente que eu conseguisse viver e trabalhar de um modo que fosse diferente do modo de vida consumista e destrutivo da sociedade vigente, desigual e injusta. Eu nunca pensei sobre qual seria minha carreira, e sim o que daria sentido a minha vida.

Este atributo de “social”, da minha preocupação com o mundo, ganhou uma visão complementar, a partir da minha mudança de curso na Universidade, quando eu saio da engenharia mecânica e inicio a Florestal. O grande resumo do que eu sentia e pensava naquele momento era algo como: “não adiantava distribuir a riqueza se esta riqueza fosse fruto de uma usurpação do planeta, por nossa parte enquanto humanidade, esgotando os recursos naturais, promovendo colapsos ambientais em escala global e gerando distúrbios ecológicos em larga escala.”

Um cartaz na parede!

A capa do livros era a imagem do cartaz.

A capa do livro era a imagem do cartaz.

Nesse estado mental, e em profundo processo de reflexão sobre minha própria vida e de para onde eu gostaria de direcionar a minha “ jornada adulta” (claro que eu não sabia que era isso que estava acontecendo) eu me deparo, um belo dia, com um cartaz pequeno, tamanho A3 pregado com durex na parede do “Ceubinho”, como era chamado aquele lugar no campus da UnB, com um texto parecido com “Curso de Permacultura”, junto com uma imagem que me chamou muito a atenção e que depois descobri que representa o que é Permacultura, por ser a capa do principal livro do método. O fato é que foi “amor à primeira vista” quando vi aquela imagem e aquele nome, eu tive calafrio, me arrepiei e mais todas essa coisas meio “místicas”, e então tive a clara sensação de que tinha achado algo importante!

Além da imagem e do nome do curso, no cartaz tinha também um número de telefone (fixo) para mais informações. Mas, por mais decepcionante que pareça, até aqui na história, não foi dessa vez que fiz o meu curso de permacultura. A pessoa que atendeu o telefone me contou que as vagas já haviam se esgotado e que não teria, mesmo, como eu fazer o curso.

A confirmação

Então, resolvi “deixar fluir”, nem botei na cabeça que teria desistido de saber o que seria essa tal permacultura, nem tampouco resolvi “correr atrás” naquele momento. Entretanto, a história tinha que evoluir para esse encontro, então num outro dia qualquer, quase um ano depois do cartaz, chego no centro acadêmico da Engenharia e escuto uma conversa de dois colegas, debatendo uma palestra que tinha acontecido ali, naquele mesmo dia mais cedo. Lembro bem que eles comentavam, com muita surpresa, o fato que o palestrante, André Soares, tinha demonstrado, de que a universidade poderia captar grande parte da água que ela mesmo consumia, a partir de seus telhados. Lembro também que eles não lembraram o nome desse “jeito de pensar” até que eu, intuitivamente, perguntasse “Permacultura?” E eles se lembraram confirmando. E, de novo, eu tive aquela sensação de que esse “negócio” era para mim.

Pouco depois, iniciei uma disciplina na Universidade chamada Agricultura Alternativa, que está atribuída ao Centro de Estudos Multidisciplinares da Universidade de Brasília, nesta disciplina o professor, João Luiz, tinha por hábito convidar alguns palestrantes até que um dia vai um agrônomo, Rogério Dias, falar de agroecologia e permacultura. A partir deste momento, no segundo semestre de 1998 eu comecei a “me mexer”. Junto com um amigo, vamos até o Ministério do Meio Ambiente, por indicação do palestrante, no escritório do PNFC – projeto Novas Fronteiras da Cooperação. Lá nós fomos recebidos por um dos consultores do projeto, o Alexandre, que depois de nos explicar bastante sobre o que era o projeto nos contou que tinha livros e revistas, salvo engano, as revistas eram gratuitas e o livro, pago. Eram a revista Permacultura Brasil e o livro Introdução à Permacultura que tenho muito bem guardado até hoje.

Um permacultor atuante!

Começo então a ser um estudante de permacultura e, de antemão, um baita entusiasta do tema. Não demorou muito, mas o ano chegou a virar e então no início de 1999 aparece um novo cartaz anunciando um curso de permacultura. Seria um curso PDC (do inglês: Permaculture Design Course), com 72 horas de duração, distribuídas em finais de semana ao longo do ano. Com, um então aluno direto do Bill Mollison, recém chegado da Austrália, André Soares. E assim, com a sorte de ter tido pais generosos e em condições de apoiar o nosso crescimento enquanto filhos (a mim e meus a irmãos e irmã), pedi a eles que financiassem o curso, pois aquilo era um investimento concreto no meu futuro. Dito e feito, inscrição bancada pelo “paitrocínio”, curso feito, vida transformada e hoje estou aqui, escrevendo este texto 20 anos depois.

Então, eu era apenas um rapaz de 20 anos sonhando com a possibilidade de trabalhar e viver por um mundo melhor e, por ter sido pai já nesta idade, preocupado com o legado que deixaria para o meu filho. Mas eu vinha de uma percepção recente de que não tinha como mudar o estado de coisas, pois o sistema estabelecido é muito forte e “inviolável”, já não acreditava mais em revoluções de massa, não acreditava mais nas instituições e muito menos em governos. Eu sentia que estávamos perdidos enquanto humanidade rumando em direção ao abismo do colapso ambiental, e pior, sem saber o que poderia ser feito para mudar. Era como saber de uma doença grave, mas não ter a menor ideia de como tratá-la. Na universidade os caminhos eram apenas dois, ou se escolhia a vertente exploratória/industrialista, ou a conservacionista, mas não se discutia a produção ecológica e a construção de um modo de vida sustentável. Foi realmente frustrante descobrir e entender que o próprio conhecimento gerado na academia e, genericamente, na ciência, estava fadado a replicar e reproduzir o modo de vida hegemônico, pautado na mercantilização da vida e no crescimento a qualquer custo. Nessa fase, dentre minha mudança de visão acerca da minha participação nos movimentos sociais convencionais, com 17 anos e o encontro com a permacultura dois anos depois, foi como se eu vivesse numa espécie de limbo entre estar completamente perdido sobre o “para onde ir” e a certeza de ter encontrado o caminho.

E o fato foi que curso de permacultura cujo meu certificado tem data de 25 de outubro de 1999, efetivamente mudou minha vida! Mas, a minha, talvez tenha mudado um pouco acima da “média esperada” para as pessoas que descobrem o assunto ou fazem um curso, pois além dela passar a reger as coisas que eu fazia no meu dia a dia e nortear minhas escolhas, eu me entreguei de corpo e alma e passei a “militar” pela permacultura.

"Oficialmente" permacultor desde 1999

“Oficialmente” permacultor desde 1999

Eu simplesmente precisava difundir essa GRANDE IDÉIA, que dois australianos tiveram nos anos 70! E o mais legal, é que para difundir, só havia um jeito, eu tinha que praticar, que fazer o que estava falando. Mas verdade seja dita, por mais casas de barro que tenha feito (foram 15), mudas que eu tenha plantado (considerando o Instituto que fundei como ações indiretamente minhas, já foram 350 mil), tecnologias sociais que eu tenha implantado, equipes que eu tenha gerido, ou qualquer outra atribuição como permacultor, o meu maior papel na permacultura brasileira é ser “um professor”, um disseminador da mesma, tanto é que além de ter idealizado o Ipoema, criei e ministrei por quatro anos a disciplina Introdução à Permacultura na UnB.

No movimento estudantil, Permacultura virou minha bandeira pessoal. ( manifestação estudantil no ano 2000)

É por isso que depois de pensar bastante e até, confesso, relutar sobre entrar “profissionalmente” no mundo “on-line” resolvi, finalmente, compartilhar toda essa história e todo o conhecimento, adquirido e lapidado ao longo desse tempo, com você! Eu percebi a grande oportunidade que temos em mãos de compartilhar estas informações em rede e não mais de um a um, numa única sala de aula. E assim darmos uma escala bem maior para a disseminação da permacultura! Quem sabe, não fazemos todo brasileiro saber o que é permacultura?

 

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